segunda-feira, 20 de julho de 2015

Sense8 - Uma análise

Não há laços que nos unam.
Não há conexões que nos façam ser/ver além de nós mesmos.

A genial série lançada este ano pela Netflix, Sense8, é um reflexo utópico e um tanto onírico da vida desconectada que vivemos nestes tempos. Idealizada e dirigida pelos irmãos Wachowski (trilogia Matrix), a trama conta a história de oito pessoas espalhadas pelo mundo que aos poucos vão descobrindo que estão ligados psiquicamente. Diferentes culturas e costumes, que de repente, percebem-se trocando experiências com desconhecidos até então. Os indivíduos começam a experimentar as sensações uns dos outros, se veem, se sentem, sentem o ambiente em que o outro se encontra...

Destoando e ao mesmo tempo uma maneira de atentar que nós humanos não somos uma ilha, a série mostra que nossas ações e escolhas podem afetar outros que estão ao nosso redor. Nossas sentimentos mais secretos, nossas emoções públicas, nossas atitudes ou nossas recusas, tudo irá se propagar e refletir em nós mesmo. Não estamos sós neste mundo e somos tão deslocados e isolados quanto pensamos.

Isso tudo é na ficção saída da mente dos irmãos W. mas e na vida real? O que acontece com as pessoas? Por que não conexões tão fortes a ponto de unir as pessoas em pensamento e sentimentos mútuos? Talvez porque vivemos em tempo onde tudo é tão 'globalizado' que nos tornamos impotentes de criar laços verdadeiramente duradouros, pois tudo é imediato, rápido e mutável. As pessoas vivem como pressa, correndo para algum lugar qualquer, ainda que não seja importante. Compromissos diários, atividades diárias, sem ao menos parar para olhar nos olhos dos outros... Não há laços que nos unam!

Todos buscamos um outro para que possamos ter paz, procuramos nos outros a paz e a certeza de que as coisas irão ser boas, mas nem ao menos sabemos o que queremos, seria uma busca vã por algo que não entendemos? Ou apenas uma placebo para que possamos continuar vivos, ainda que nos enganando propositalmente? Não temos amigos, não temos amores, quiçá temos familiares... Estamos bloqueados e nos dividir e aceitar uma aproximação com o outro, ainda com toda tecnologia que nos deixa ligados 24/7 com o mundo todo, não há conexões que nos façam ser/ver além de nós mesmos!

Talvez a série Sense8 seja a primeira deste estilo, é uma sci-fi com uma 'pegada' sentimentalista que cria esse drama contemporâneo que está fascinando milhões pelo mundo. A cada episódio em que a história vai se aprofundando nos oito 'sensates' protagonistas e suas viagens mentais, vamos percebendo o quão somos frágeis em nossa singularidade ao mesmo tempo que somos incompletos daquilo que nos falta. Uma trilha sonora impressionante com hits e sons que nos tocam a todos, além da fotografia e das cenas impecáveis que nos faz estar ali junto com os oito, como se fôssemos um deles. A série nos faz querer ser um sensate, ser um grupo.

Chegará o dia em que estaremos ligados em outros a ponto de senti-los? Chegaremos ao tempo em que não seremos um, seremos mais? Um dia que não serei só eu, serei nós!?

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