segunda-feira, 9 de julho de 2018

Noites – 09/06/18

 Os sons abafados do lado de fora já não possuem significados

As paredes ao meu redor se encolhem e me sufocam

O acima e o abaixo se confundem, se misturam, se conectam

Apenas uma porta é a saída para quem não se sente livre

Os sons abafados surgem de dentro do corpo imóvel

 

As imagens que os olhos alcançam já não se movem

Os objetos e as alucinações parecem cansadas de voar

Não há palavras, não há vento, não há esperanças

Sentimentos vêm e vão como reflexos no escuro do quarto

As imagens que os olhos imaginam não passam de ilusões

 

As noites são dias quando não há luz para se orientar

As noites são frias quando não há com o que se aquecer

As noites...

domingo, 8 de julho de 2018

A criança desaparecida – 09/06/18

As névoas estavam densas
E a criança desaparecida
A aldeia em alvoroço
E a criança desaparecida
 
Dois ciclos lunares se passaram
E a esperança já se esvanecia
Na floresta ao redor da aldeia
Nenhum sinal dos elementais
 
Parecia que a criança havia desaparecido no ar
Sem deixar lembranças de sua vida
Muitos ciclos se passaram
E ninguém mais se lembrava da criança
 
Uma geração se sucedeu na aldeia
Até que algo surgiu entre os carvalhos
Um novo ser sem origem
A criança agora era um sábio

Outrora roubado de uma vida sem futuro
Vagou por outros mundos e conheceu os mistérios
A criança desaparecida agora era um mestre
A salvação dos aldeões que o esqueceram
 
Raros anciões se recordavam do fato
A criança pouco havia mudado
Cresceu, tornou-se adulto, mas não envelhecerá
A criança desaparecida surgiu como quando sumiu

domingo, 1 de julho de 2018

Se hoje eu morrer

Se hoje eu morrer e o amanhã não chegar
Não terei ido aos lugares que planejei
Vou lamentar por deixar o diário inacabado
Se hoje eu morrer
Não será por desistência ou medo da vida

Se hoje eu morrer e o amanhã não chegar
Não saberei como são os outros
Vou chorar pelos que não conheci
Se hoje eu morrer
Não serei menos do que os dias que fui

Se hoje eu morrer e o amanhã não chegar
Não terei sido totalmente compreendido
Vou deixar de me expressar
Se hoje eu morrer
Não seria uma fuga daquilo que eu sou

Se hoje eu morrer e o amanha não chegar
Não terei amado aqueles que eu deveria
Vou recolher os restos de mim
Se hoje eu morrer
Não será pela saudade e sim pela ausência

Se hoje eu morrer
E o amanhã eu não chegar a ver
Não será por solidão
Mas pelo tumulto interno do ser
Pelo tumulto da multidão...
 

segunda-feira, 11 de junho de 2018

Poesia da Carne


Estou olhando a caligrafia e suas letras me fascinam
Descendo pela sua pele alva cada palavra possui um mistério
A poesia em seu corpo me transforma de tal maneira
Que desejo usá-la, cada oração, cada sentença...

Cada movimento e cada frase em seu corpo dançante
Meu olhar inconspícuo procura pelo êxtase
Palavras que sobem pelas pernas
Palavras que te envolvem o torso

Celebrações em minha mente (inconsciente)
Crio as nuances de orações profanas
Agora cada palavra faz sentido
E os sentidos se misturam e se desdobram

Que som é esse dessas palavras em destaque
Qual é meu papel nesse roteiro?
Palavras que sobem pelo pescoço
Palavras que rodeiam minhas fantasias

quinta-feira, 17 de maio de 2018

Noites não dormidas (ou Sobre a dor n.01)


Ás vezes penso que as psicoses nunca irão desaparecer de tempos em tempos elas se mostram na janela ou em um espelho por mais que eu mal as recorde um fantasma surge para estragar o dia e tudo parece cinza novamente esta é uma celebração ao contrário cada momento de lembrança é menos um momento na vida imagens de outras eras passadas, outros lugares vividos, outros remédios tomados algo ficou errado neste percurso torto das belezas escondidas em olhares mal me lembro o que restou foi a confusão das noites não dormidas e dos encontros não realizados... As dores que sinto seriam a causa ou o efeito já não sei distinguir o dia da noite, das ruas não me lembro e daqueles fantasmas já não fujo compreendera si mesmo é questão de intensidade ou de reflexão das lembranças? não sou mais o que era antes e deixei que a dor me abraçasse por não saber lutar, por não ter pelo que lutar... estou errado, quebrado, aprisionado em um quarto de destroços... sem mais páginas e sem mais tintas não há palavras para se criar ou libertar não vejo nuvens nem esperanças as cores fugiram de mim como eu fujo deles não há tempo nem espaço para mim...