quinta-feira, 23 de março de 2023

À luz da janela

Por mais que eu negue, ainda estou sangrando
Por mais que eu negue, ainda estou tremendo
Por mais que eu grite, ainda estou mal
Por mais que eu finja, ainda estou sangrando
 
Se saio ao sol, sinto as dores que eu projetei
Se tento socializar, sinto sono e a vontade de chorar
 
Por mais que eu finja, ainda estou sangrando
Por mais que eu grite, ainda estou mal
Por mais que eu negue, ainda estou tremendo
Por mais que eu negue, ainda estou sangrando
 
Se saio, choro
Se fico, projeto-me...
 

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Sinais do tempo-espaço

Mande notícias codificadas
escondidas em fumaças e  olhares
Mande notícias de um outro tempo
quando já esquecido for
Mande saudade de outra vida
longe deste calendário errôneo
Mande esperanças de tempos de longe
sem árvore, sem vida, sem sombra de dúvidas
Mande um recado que eu possa sonhar
deixe-me ir com as mesmas lágrimas
Mande notícias do outro lado do tempo
o contrário daqui, o oposto de lá
Mande sinais, mande sinais...

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

Virando páginas/Sendo páginas

Querendo ser anjo, querendo ser ave

Querendo estar depois da paisagem

Querendo ser cor, querendo ser sol e flor

Deixando todo o tóxico que me golpeia 

Deixando a nostalgia no banco da praça

Querendo ser música mudando de ares

Querendo estar fora das páginas

Vislumbrando outras auroras ou demoras

Vislumbrando o que há de diferente acima

do horizonte

Querendo ser estação, querendo ser noite

Querendo ser folha, orvalho e silêncio

Querendo estar chuva

Querendo ser outra canção


domingo, 29 de janeiro de 2023

Manhã de domingo

Adormecido e torpe
os olhos mal conseguem se abrir para a luz
Esquecido e funesto
os músculos já não sabem se mover
Desaprovado e ermo
não distingo a escuridão do silencio 
Dias ordinários sem ter o que se fazer de errado
Nuvens em rasante sobre a íris despreocupada
Não são rasas as poças de lágrimas dessa jornada
As escolhas e as chances estão perdidas no vento
Silenciado e obscuro
nenhuma melodia me fará despertar
Lancinante e atroz
sem palavras para descrever o caos que se instala
Efêmero e derrotado
seria melhor não ter aparecido, quiçá não ter lembrado...


sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Menos de mim

O sol se deitou no oeste, as nuvens cobriram o céu
outro dia se foi tranquilo, menos eu...
As horas parecem irrelevante, as primeiras e as últimas
outra volta no relógio na parede, menos eu...
Uma música de dez anos atrás, a mesma emoção
outra lembrança repetida, menos eu...
O que eu deveria fazer com essas palavras?
Juntá-las em um pote no alto da estante?
Emoldurá-las na parede mais vazia da sala?
Não sei ao certo o que eu deveria sentir... ou não
 
Os carros passam velozes lá embaixo
Sons invadem a noite da cidade, menos eu...
Já é tarde da noite e não consigo me desligar
as cordas que me prendem são fortes demais
Minhas dores, minhas angustias vívidas ainda hoje
Está difícil para dormir e esquecer o inferno
O que eu deveria fazer com essas palavras?
Por que eu deveria esperar o amanhã?
Onde está meu remédio para o esquecimento?
 
As apostas foram feitas para mais um ano
Todos contam com a sorte, menos eu.

sábado, 17 de dezembro de 2022

Não se pode sair da conexão

A luz se levanta das frias montanhas

Os raios despertam as copas das árvores 

Meus olhos outrora cerrados se inclinam a se abrir

Frente a mim o azul infinito de um céu esquecido 

nas palmas de minhas mãos a grama orvalhada...

Sinto o som dos animais matinais

Sinto o balanço dos troncos mais altos

Sinto o movimento do riacho ao longe

Sinto os pássaros nas copas e seus saltos

Cambaleio e levanto enchendo os pulmões

Com os aromas de flores e partículas de luz

Paraliso-me e concentro-me - sou uma árvore

Meus pés se aterram e o vento me abraça

circulando-me pedindo uma dança...

Sinto a força do bater das menores asas

Sinto o calor e a brisa na palma da mão

Sinto as mudanças climáticas a cada momento

Sinto o pólen, o aroma, a fragrância do verão

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

A noite não existe

Estrangulado ao amanhecer
lutando pela névoa se desvencilhando dos pesadelos
eu continuo pela rua errada
eu continuo lutando para permanecer são
Atordoado com o sol nascente
Vista embaçada desatando os nós
eu continuo errando as mesmas pistas
eu continuo lutando pela liberdade
 
Ao longe as sirenes ecoam pela cidade fantasma
Ensurdeço-me ao meio-dia
o rosto queima no asfalto sem memória
eu continuo buscando por paz
eu continuo lutando para permanecer são 
Vazio contínuo em tardes nebulosas
O crepúsculo avança em silêncio irreal
A noite não existe, eu não existo...

A noite é ilusão de quem não viu o sol