Confissões da madrugada em sustos
pré-programados de experiências sensoriais anteriores, revelados em sonhos,
despertados em reflexões... Neste momento são 4:46 da manhã de um sábado do dia
29 de janeiro de 2022. O futuro, talvez; uma distopia avassaladora dos sentidos
que se revela assustadoramente realidade.
Obscuro? Delírios de um alguém que se profetiza dolorosamente outrem.
Aquilo que existe é aquilo que deveria existir, ou não? Simplória questão não
relevante. Este escrito não é sobre isso.
Despertei-me, e a primeira
palavra de nosso vocabulário que me surge como materializada dentro de mim, foi
esta: absorto. Caso eu estivesse plenamente feliz poderia supor que
inconscientemente me foram lançadas dois outros vocábulos: absurdo e surto.
Mas, nesta situação, não me encontro prontamente capaz de lidar com esse jogo
de palavras. Falta-me capacidade cognitiva para estabelecer reflexos reais
neste contexto, ora existisse contexto. Se fosse o caso de eu me apavorar e
abruptamente tentar ignorar, poderia ter voltado a dormir, e tentado mais forte
ainda a não retornar para o sonho que me fez sentir-me desta maneira; nova e
estranha, sensível e complexa, este é um novo conceito que engulo aos poucos,
arriscando-me absorver.
Essa percepção, nunca antes me
fora tão intensa. Não que minha memória recente não possa entendê-la, ao invés
de realmente afirmar algo. A profundidade em que me deparo agora é angustiante.
Converto-me na persona que um dia, há muito tempo esquecida, pensei que poderia
ser. Não me tornei essa persona. Esqueci-a. Adormeci-a... Palavras de meu
imaginário próprio, ainda que não alcance os neologismos pessoais, estas tantas
palavras de meu vocabulário que anos não utilizo em vida, retornam e me testam
a organiza-las, e em contrapartida, meus pensamentos não estão congruentes com
meus dedos, quiçá com minha vontade de estar desperto neste momento.
A combinação do êxtase e do medo
deste processo inconsciente me trouxe de volta de um mundo horrível, onde me
tornei um mero observador do vácuo de ilusões e ideias que minha vida se
tornara. Não sei precisar, obviamente, quanto tempo me mantive preso nesta
narrativa surrealista, mas o fato é que ela me afetou, e o resultado disso já
não sei concluir. Retornando ao acontecimento, será de extrema delicadeza e
equilíbrio para que eu não atropele, ou incentive, ou ainda, influencie
quaisquer cenários. Não serei digno de interpretá-lo, e como já mencionado
acima não possuo a habilidade para tal feito. Este será apenas um registro
desta manhã única que me abalou de maneira inimaginável, ao ponto de me fazer
criar este registro.