sábado, 17 de dezembro de 2022

Não se pode sair da conexão

A luz se levanta das frias montanhas

Os raios despertam as copas das árvores 

Meus olhos outrora cerrados se inclinam a se abrir

Frente a mim o azul infinito de um céu esquecido 

nas palmas de minhas mãos a grama orvalhada...

Sinto o som dos animais matinais

Sinto o balanço dos troncos mais altos

Sinto o movimento do riacho ao longe

Sinto os pássaros nas copas e seus saltos

Cambaleio e levanto enchendo os pulmões

Com os aromas de flores e partículas de luz

Paraliso-me e concentro-me - sou uma árvore

Meus pés se aterram e o vento me abraça

circulando-me pedindo uma dança...

Sinto a força do bater das menores asas

Sinto o calor e a brisa na palma da mão

Sinto as mudanças climáticas a cada momento

Sinto o pólen, o aroma, a fragrância do verão

sábado, 29 de janeiro de 2022

Absorto. 446.

 

Confissões da madrugada em sustos pré-programados de experiências sensoriais anteriores, revelados em sonhos, despertados em reflexões... Neste momento são 4:46 da manhã de um sábado do dia 29 de janeiro de 2022. O futuro, talvez; uma distopia avassaladora dos sentidos que se revela assustadoramente realidade.  Obscuro? Delírios de um alguém que se profetiza dolorosamente outrem. Aquilo que existe é aquilo que deveria existir, ou não? Simplória questão não relevante. Este escrito não é sobre isso.

Despertei-me, e a primeira palavra de nosso vocabulário que me surge como materializada dentro de mim, foi esta: absorto. Caso eu estivesse plenamente feliz poderia supor que inconscientemente me foram lançadas dois outros vocábulos: absurdo e surto. Mas, nesta situação, não me encontro prontamente capaz de lidar com esse jogo de palavras. Falta-me capacidade cognitiva para estabelecer reflexos reais neste contexto, ora existisse contexto. Se fosse o caso de eu me apavorar e abruptamente tentar ignorar, poderia ter voltado a dormir, e tentado mais forte ainda a não retornar para o sonho que me fez sentir-me desta maneira; nova e estranha, sensível e complexa, este é um novo conceito que engulo aos poucos, arriscando-me absorver.

Essa percepção, nunca antes me fora tão intensa. Não que minha memória recente não possa entendê-la, ao invés de realmente afirmar algo. A profundidade em que me deparo agora é angustiante. Converto-me na persona que um dia, há muito tempo esquecida, pensei que poderia ser. Não me tornei essa persona. Esqueci-a. Adormeci-a... Palavras de meu imaginário próprio, ainda que não alcance os neologismos pessoais, estas tantas palavras de meu vocabulário que anos não utilizo em vida, retornam e me testam a organiza-las, e em contrapartida, meus pensamentos não estão congruentes com meus dedos, quiçá com minha vontade de estar desperto neste momento.

A combinação do êxtase e do medo deste processo inconsciente me trouxe de volta de um mundo horrível, onde me tornei um mero observador do vácuo de ilusões e ideias que minha vida se tornara. Não sei precisar, obviamente, quanto tempo me mantive preso nesta narrativa surrealista, mas o fato é que ela me afetou, e o resultado disso já não sei concluir. Retornando ao acontecimento, será de extrema delicadeza e equilíbrio para que eu não atropele, ou incentive, ou ainda, influencie quaisquer cenários. Não serei digno de interpretá-lo, e como já mencionado acima não possuo a habilidade para tal feito. Este será apenas um registro desta manhã única que me abalou de maneira inimaginável, ao ponto de me fazer criar este registro.